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Se…

mulher 

Se pudesse voltar a tocar os teus cabelos côr de vento…

Se pudesse deitar-me sobre o teu corpo aberto e quente….

Se pudesse beijar os teus lábios espessos…

Se pudesse sentir-te minha por um só momento…

Se… Se…

Se tudo tivesse acontecido, nada ficaria do inobtido….

… e tu… não significarias mais nada…

nem lembrança nem desejo,

apenas cansaço…

Algo… Alguma coisa…

espaço

Procuro a essência de mim nas pedras lentas do pensamento,

procuro um momento antes do primeiro,

algo, um vestígio, um som, uma prova qualquer,

uma luz que se pronuncie ou denuncie…

Nada… Absolutamente Nada…

Mensagens indecifráveis povoam a mente…

Imagens d’alguns lugares fora de mim…

Imagens…. Visões apenas…

Cada dia é menos um dia…

Tudo está a ficar mais óbvio…

A lucidez impera…

 

Tentei violar-me…

poemasimagem 

 

Estou na noite com o universo inteiro,

não há tempo dentro de mim..

Galáxias do pensamento…

Não há distância…

A razão da noite reside no dia..

Cansado de não me pertencer, tentei violar-me…

Nexo…

sonhos 

 

Procuro palavras sem nexo para escrever frases sem nexo,

numa página sem nexo, com ideias sem nexo, para fazer um poema sem nexo…

Tudo… sem nexo…

Impossível… tudo tem nexo…

Não é fácil escrever um poema sem nexo,

ainda que fosse difícil escrevê-lo com nexo…

Tudo tem nexo, porque nada tem nexo…

 

Por favor, chora…

o segredo da noite 

 

Porque não choras?…

Não sabes o sabor das lágrimas,

não conheces a côr do tédio…

Chora…

por favor chora…

Não sabes o motivo da tua angústia? Então?…

Porque choras?

Continuas sem saber a razão?…

Chora… Por favor Chora…

Afinal, o teu chorar é a proporção de tudo o que não consegues saber…

Chora… Nem que seja apenas por chorar….

…Não és capaz….

…Então… Chora…

 

1982

Carlos Campos

 

noite 

 

Procurei o porquê de mim nesta selva de árvores negras, carnívoras…

Procurei o porquê deste “Eu” por que me trato, deste “Tu” em que me pensas,

deste nada que me entontece…

Procurei no vazio soberbo dos meus dias cheios de tantos nadas…

Procurei uma forma diferente de conjugação verbal p’ra me reconhecer…

Procurei o porquê desta pretensa identidade…

 1982

Barão de Campos

Procura…

estrelas 

 

Canção desesperada na noite

corroída de imagens fantasmagóricas…

Lágrimas contidas na ira e no medo…

Morte na dilaceração da mente em desordem…

Movimento ténue de pena voando na escuridão…

Oráculo descoberto na rocha da vida,

sofrimento nele inscrito…

Tempo doloroso…

Desejo inútil de procura

no desencontro mágico

desta fantasia absurda…

 

1982

Barão de Campos

guerraultramar 

 

“Adeus… A…t…é… ao meu regresso”,

foram as tuas últimas palavras,

naquele Natal que não podia ser teu,

naquela arvore que não enfeitáste…

Foram as tuas últimas palavras com lágrimas,

sulcadas no peito aberto…

Véspera da tua morte,

quando a vida raiava dentro de ti…

“Adeus… A…t…é… ao meu regresso…”

Palavras pronunciadas pelos teus lábios secos,

naquela gravação falsa…

“Adeus… A…t…é… ao meu regresso…”

Palavras que nunca passaram

de um desejo de cadáver…

 

Homenagem aos jovens soldados vítimas da guerra colonial.

Barão de Campos

 

Àcerca do Amor…

mulher2 

 

O Amor é Eterno,

não é nada do que dizem ser,

mas tudo o que não querem que seja…

Posso te amar sem te ver e te ver sem te amar,

mas não posso te amar sem amor te ter…

Amor não é pregão de almocreve,

o amor é tudo o que dele não se escreve…

Amor pode ser argumento de romance ou novela,

pode ser quadro de óleo ou aguarela…

Amor pode ser nada,

um nada puro,

pode ser vida chorada para além do escuro…

Vida e morte pode ser,

leão e gazela, noite e dia,

realidade fugidia e bela…

 Partida ou regresso,

presença ou ausência,

defeito ou excesso, mas sempre apetência…

 

25/6/1982

 

Barão de Campos

Vozes…

noite1 

 

As vozes são vibrações,

impactos de moléculas, conjunto de operações…

As vozes são sons,

sons da vida e do tempo…

As vozes são imagens,

imagens que se fixam para sempre

nos cantos mais taciturmos da mente…

 

 

25/06/1982

 

Barão de Campos

As Palavras…

paisagem3 

 

As palavras voam, apesar de não possuirem asas,

voam como penas na toada do vento,

voam sem direcção ou destino,

voam e isso basta-lhes…

 

25/06/1982

Carlos de Campos

 

Poesia…

rosto de mulher 

 

Poesia é escutar o silêncio na tarde que adormece,

 é o nada que surge na ausência…

Poesia é um cântico de neve na estrada do tempo sentido,

é a luz do Ser nesta identidade que desconheço…

Poesia é realidade irreal que me apavora,

é um grito sem som, a expressão que me envolve quando me abandono…

Poesia é um nada fundo e distante onde o meu Ser repousa nas manhãs de amor, nas tardes de revolta ou nas noites de suicídio errante…

A Poesia… É ….

 

23/06/1982

Barão de Campos